quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Conhecimento Artístico

O conhecimento artístico apresenta-se na forma de um objecto sensível que se gerou e se projecta além da sua sensibilidade, num espaço informe, interior ao artista e ao leitor, diferentemente contudo. Sabemos que a criação é o acto de configuração objectiva da experiência individual. Mas o que é, de facto, o conhecimento artístico? E como partilhá-lo se os objectos artísticos são, eles próprios, o seu próprio saber deles? Ao contrário do conhecimento científico, cuja delimitação do objecto o torna um conhecimento parcelar da realidade, e que procura legislar acerca dos fenómenos observados, descritos e analisados, permitindo-lhe antecipar, dessa forma, as suas ocorrências regulares, o objecto de conhecimento da arte é o todo da experiência humana, esta última sendo o desenvolvimento interior do contacto com o exterior, ao qual o indíviduo acede pelos sentidos. Ao contrário da abstracção filosófica, que «aspira a um conhecimento uno da experiência e do próprio conhecimento, a arte, partindo do todo e acrescentando-se dialecticamente a ele, concretiza-se através da sua existência como corpo objectivo, fruto de uma vivência circunstancialmente "localizada", mesmo se participando do eterno, do infinito e do uno, para citar Shelley,e ainda se musical ou abstracta.








A poesia existe para tentar dar nome ao desconhecido que o poeta ousou. Esse desconhecido não implica, contudo, que a actividade do poeta haja de procurar mover-se para fora da sua experiência no mundo. É, sobretudo, uma tentativa de formar pela linguagem o não-nomeado, «um excedente de vida interna. A partir do momento em que a obra existe, o irreconhecível passou a ser forma pela sensibilidade das palavras, tornando-se conhecimento, «porque o/ virtual de um pensamento, se tornou ali/ uma evidência: se tornou concreto.



O poeta tem, implícita ou explicitamente, a consciência da diversidade e do inexacto. Só se percebe a necessidade de criação, no entendimento de que é da natureza da linguagem diagnosticar-nos os sentidos, remetendo para uma forma conhecida todo o diálogo possível com o real. Por isso, no sentido em que a poesia é uma forma de conhecimento, o poeta compreende que corporizar o excesso (o que ainda não fora dito, o informe) é construir algo mais do que um alomorfe de uma, digo, arqui-forma. É, no fundo, o construir de uma arqui-visão do mundo, o poema, que compreenda o profundo de um mergulho além do mais periférico do expressável. A nova forma, como superar do perfeito reconhecível, é, então, no seu escopo, um lugar para onde flui o dizível da experiência. Em cada forma se desloca, assim, os limites do finito do conhecimento, infinitamente. O desejo de conhecer, de tornar conhecimento, tornou necessária uma nova existência objectiva, porque, entenda-se, «(...)a poesia não é uma maneira complicada e difícil de dizer coisas que podem ser ditas de maneira simples e fácil - mas é, acima de tudo, uma maneira de dizer o que não pode ser dito de outra maneira, num mundo ameaçado por todo o tipode silêncios e totalitarismos de linguagem, da consciência e do sentido. A poesia é o reino maravilhoso onde a língua do nosso corpo e do nosso quotidiano intersubjectivo encontra novas e ilimitadas possibilidades de formular o sentido e de assim alargar as fronteiras do mundo em que vivemos e nos formamos. Se, como dizia Wittgenstein, os limites da nossa linguagem são os limites do nosso mundo, a poesia dá-no a conhecer o infinito da nossa linguagem e do nosso mundo, permitindo-nos por essa via formular o informulável das coisas e dos seres e conceber um mundo mais livre e possível.



A vida, fonte e fim inesgotável de criação, «prostituta ingénua que, por momentos, terá olhos maternais, é sempre como quem escuta, virgem, a voz que irrompe fulgurante, qual primeiro vagido que diz só: um sentido que se enovela dentro do seu próprio dizer, a quem não pesa a gravidade das coisas que foram já nomeadas.



Fonte: http://web.letras.up.pt/primeiraprova/conhecimento.htm





O conhecimento artístico





Embora pareça um assunto datado, é recente a valorização da criatividade e da imaginação como elementos constitutivos do conhecimento. A arte, no entanto, não reflete uma forma de conhecimento que se encerra em si, pois a partir dela é possível alcançar novas formas de experiência humana.

Durante muitos anos, a visão positivista do conhecimento colocou a ciência no topo de uma pirâmide. Logo abaixo dela, vinham conhecimentos tidos como inferiores, como a filosofia, a religião e o empirismo (chamado de conhecimento vulgar). Atualmente, filósofos e cientistas começam a concordar que existem outras forma de explicar o mundo tão importantes quanto a ciência. Uma dessas formas, ainda um tanto desvalorizada, é a arte. Em filmes, quadros, livros e até histórias em quadrinhos pode estar a chave para compreender o homem e o mundo em que vivemos.









Edgar Morin a acredita que a arte é um elemento essencial para analisar a condição humana. No livro “A cabeça bemfeita”, ele diz que os romances e os filmes põem à mostra as relações do ser humano com o outro, com a sociedade e o mundo: “O romance do século XIX e o cinema do século XX transportam-nos para dentro da História e pelos continentes, para dentro das guerras e da paz. E o milagre de um grande romance, como de um grande filme, é revelar a universalidade da condição humana”. Assim, em toda grande obra, seja de literatura, poesia, cinema, música, pintura ou escultura, há um profundo pensamento sobre a condição humana. Entretanto, essa maneira de ter contato com o mundo representado pela arte foi marginalizada durante décadas.







Origens do preconceito







O Círculo de Viena a, importante grupo de intelectuais do início do século XX , acreditava que a imaginação era um corpo estranho à ciência, um parasita que devia ser eliminado por aqueles que pretendem fazer uma pesquisa séria. Numa época em que a ciência era tida como a única forma válida de explicar o mundo, isso equivalia a uma sentença de morte contra a imaginação e a criatividade. O mesmo Edgar Morin, agora no livro “Introdução ao pensamento complexo”, explica que a imaginação, a iluminação e a criação, sem as quais o progresso da ciência não teria sido possível, só entravam na ciência às escondidas. Eram condenáveis como forma de se chegar a um conhecimento sobre o mundo.







A valorização da criatividade e da imaginação só aconteceu muito recentemente. O filósofo Karl Popper, por exemplo, ao observar as pesquisas de Einstein, que considerava o mais importante cientista do século XX , percebeu que toda descoberta desse cientista encerrava um “elemento irracional”, uma “intuição criadora”.







O trabalho do pensador alemão Thomas Kuhn, ao demonstrar os aspectos sociais e históricos na construção do conhecimento científico, abriu caminho para que a arte fosse resgatada como forma de conhecimento. Afinal, se o cientista é influenciado pelo mundo em que vive, ele também é influenciado pelos romances que lê, pelos filmes que assiste e até pelas músicas que ouve.







No Brasil, um livro importante para a aceitação da arte como forma de conhecer o mundo foi “A Pesquisa em Arte”, de Silvio Zamboni. Na obra, o autor argumenta que a arte não só é um conhecimento por si só, como também pode constituir-se em importante veículo para outros tipos de conhecimentos, pois extraímos dela uma compreensão da experiência humana e de seus valores.







Intuição







A aceitação da arte como conhecimento implica a necessidade de compreender como essa manifestação se desenvolve. Sabese que existe um lado racional na produção artística, mas também existe um componente não racional e, portanto, difícil de ser verbalizado. Uma das obras mais relevantes para a compreensão desse processo é o livro “Desenhando com o lado direito do cérebro”, de Betty Edwards. Baseando-se em pesquisas científicas sobre a constituição do cérebro, ela percebeu que, geralmente, o hemisfério esquerdo é dominante na maioria das pessoas, o que dificulta a livre expressão da criatividade, já que o lado esquerdo é racional, lógico e analítico, enquanto o lado direito é intuitivo e criador.



fontes: http://conhecimentopratico.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/17/artigo134597-1.asp

Um comentário:

  1. o conhecimento artistico embora pareça um assunto datado, é recente a valorização da criatividade e da imaginação como elementos constitutivos do conhecimento.

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